sexta-feira, 24 de abril de 2009

25 de Abril de 1974

Levantei-me cedo para ir para o colégio. Fui buscar uma amiga que me acompanhava, mas o avô disse-me para voltar para casa porque não havia escola.Não entendi... tinha acabado de sair de casa e achei que se voltasse com aquele argumento, ninguém me levaria a sério e acabaria por sofrer represálias, ou, melhor dizendo : reprosálias - o que era muito pior! Lá fui... direita à quinta de Aranguêz da qual hoje apenas recordo a enorme árvore que me preencheu os sonhos na infância, por parecer uma tartaruga gigante (com cabeça e patas) suspensa numa estaca.Desci pela Tebaida e vi uma coluna militar que descia a avenida do hospital. Não se via ninguém na rua e fazia um silêncio estranho. Tive medo... apressei os passos direita ao colégio.
Quando lá cheguei só estávamos três meninas. A Irmã Teresa e a irmã Maria(o colégio é católico), tiravam apressadamente as fotografias do Américo Tomás e do Marcelo Caetano, muito assustadas, choravam (continuava a não perceber...se lhes dava vontade de chorar, deixassem-nas lá ficar!Já lá estavam há muito tempo e nunca lhes tinha feito diferença). Contudo entendi claramente que não era um dia qualquer.
Pouco tempo passado à minha chegada, apareceu o meu irmão César numa euforia sem explicação (que dia estranho...) e levou-me para casa com explicações que só me confundiam cada vez mais.
As horas foram passando, a minha mãe não tirava os olhos da televisão para ver o que se passava em Lisboa. Recordo: muita gente, muita alegria, muitas lágrimas, muitos assuntos que desconhecia. Toda a gente falava com uma atitude colectiva que não era comum (pelo menos ali na vizinhança).Mas tive a certeza por fim: era MESMO um dia especial.
Tinha nove anos... tive pena de nãos ser mais velha. Também queria sentir aquilo que os invadia.

1 comentário:

  1. Vá lá.
    Eu com 14 anos apenas me lembro de que ía de camionete para a Terroa, fazer não sei o quê.
    Benvinda mana.

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